A proposta alicerça-se no aprofundado estudo de museologia realizado à priori, com intenção clara de evitar protagonismos formais despropositados, por forma a não destruir a unidade da imagem arquitectónica e ambiental do conjunto industrial da Levada. A área de intervenção, que confina com o tecido antigo e com o Rio Nabão, consiste na “reabilitação” das antigas indústrias, transformando-as num complexo museológico. O Conjunto Industrial apresenta três núcleos de edifícios, arquitectónicamente coerentes e homogéneos, nomeadamente os Lagares, as Centrais Eléctricas, e as Moagens. Ao conferir coerência e unidade a todo este conjunto, há a considerar o dinâmico plano líquido – a Levada.

Para além dos núcleos a musealizar, havia a preocupação de se instalar uma sala multiusos, bem como reservar-se um outro espaço para a instalação de um Núcleo Interpretativo. O Complexo Cultural da Levada ainda deverá possuir uma galeria de exposições, uma cafetaria e todo um conjunto de espaços públicos, semi-públicos e privados do museu, devidamente organizados de forma à correcta fruição pelos visitantes e adequados a um eficaz modelo de gestão.

Para todo o conjunto estão previstos acessos e percursos próprios para visitas distintas aos diversos espaços musealizados, sendo que todos têm como ponto de partida o núcleo central do complexo. O seu posicionamento em todo o conjunto facilita uma distribuição funcional dos serviços internos do museu, a autonomização das áreas de exposição, administrativas e espaço multiusos. A possibilidade de, através de uma ponte pedonal, se aceder ao museu a partir do estacionamento localizado na outra margem do Nabão, propicia uma nova leitura do conjunto industrial da levada.

Agregado ao átrio existe um conjunto de espaços comerciais, bilheteira, loja do museu e cafetaria, e é a partir desta “praça” do museu que se iniciam dois eixos de articulação com as restantes valências do complexo museológico. A Central Eléctrica irá compatibilizar a função museológica com a de central técnica, onde ficará instalada uma futura mini-hídrica. Na nave industrial confinante, o piso térreo é reservado para galeria de exposições. O piso superior está reservado para um centro de documentação, resultado da construção de um piso intermédio. Os edifícios dos moínhos e moagem serão alvo de musealização e da instalação de um Núcleo Interpretativo das Moagens. Do lado oposto é possível aceder ao Lagar o Novo, onde funcionará a Sala Polivalente (ou multiusos). Com acesso próprio pelo exterior, poder-se-à visitar a Serralharia /Fundição e por fim, no edifício do Lagar do Alcaide Mor, será instalada a administração do Complexo. Os percursos de visita consistem numa estrutura composta por elementos metálicos, cujos pavimentos serão em réguas de madeira, uniformizando cotas internas, já que cada unidade tem a sua própria cota de soleira.

Do ponto de vista da intervenção arquitectónica, poder-se-à resumir a intervenção ao desejo de fazer permanecer a realidade actual, produzindo apenas uma acção requalificadora dos objectos arquitectónicos existentes, isto é, pretende-se que através de uma intervenção “invisível”, se valorize o património construído. No que se refere às acções a empreender sobre o conjunto edificado, toda a proposta está ancorada na recuperação integral dos diversos edifícios, introduzindo um novo volume correspondente ao núcleo central do complexo museológico. Na fachada sobre a levada, pretendeu-se que a leitura da nova entrada fosse produzida através de um “sinal” simples e subtil, resultante de um mero recuo do plano marginal e a introdução de uma dissimulada rampa de acesso. De resto, tendo em vista a melhor integração neste contexto formal, o plano de fachada proposto mantém a opacidade das restantes edificações.